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Este blog assume a forma de um instrumento de reflexão e de avaliação, inserindo-se na Unidade Curricular RI-AICE, orientada pela professora Luísa Aires, no âmbito do Mestrado de Supervisão Pedagógica, ministrado pela Universidade Aberta.



Tema 1

Relações Interpessoais: afiliação, vinculação e padrões relacionais 

Sinopse
Um Olhar Sobre o Conceito de Relações Interpessoais
Cada um de nós aprende a conhecer-se e a conhecer os outros no seio de relações que tem com estes. Viver em sociedade significa não viver só, implica conviver e interagir com o nosso semelhante, dado que vivemos no interior de diversos grupos sociais onde conservamos relações com os outros. Neste sentido, podemos considerar que as Relações Interpessoais são todos os contactos entre pessoas, podendo ocorrer em todos os meios, como sejam o familiar, educacional, social, institucional, apresentando sinais de harmonia, avanço e progresso ou estagnação, agressão e alienamento.
As relações que temos com os outros caracterizam-se por sentimentos diferentes e, até mesmo, contraditórios: sentimo-nos atraídos por algumas pessoas, estabelecemos relações de intimidade ou temos experiências de relações marcadas pela agressividade com outras.
É deste tipo de interacções que vou abordar ao longo deste primeiro tema, ou seja, referirei o que são e como se explicam as relações de Afiliação, Aceitação, Reciprocidade, Interdependência, Rejeição, Vinculação e Padrões Relacionais e procederei ao registo de atitudes de aceitação, reciprocidade, interdependência e rejeição.

Apresentação das tarefas propostas e respectivos objectivos
As tarefas propostas são duas:
1.ª Exploração dos conceitos relacionados com as Relações Interpessoais, como a Afiliação, Aceitação, Reciprocidade, Interdependência e Rejeição;
2.ª Registo de atitudes de Aceitação, Reciprocidade, Interdependência e Rejeição, ao longo de uma semana, em cenários escolares e formativos.
Os objectivos são:
- Identificar agentes, intencionalidades e especificidades contextuais das interacções em âmbitos educativos e formativos;
- Analisar as relações interpessoais, em contexto educativo, à luz das perspectivas sistémica e dialógica.

As Relações Interpessoais e a Psicologia
As Relações Interpessoais têm sido, desde sempre, alvo de interesse da Psicologia, sendo que é ao nível da Psicologia Clínica que se têm efectuado estudos nos diferentes referenciais: o comportamental, o cognitivista, as orientações psicodinâmicas, as denominadas humanistas, e, mais recentemente, no referencial transpessoal. Para além disto, as novas abordagens terapêuticas de inspiração holística, como a biossíntese, a búdica e a holotrópica, têm vindo a empenhar-se na produção de novas relações entre as pessoas, na vida familiar e na sociedade, considerando algumas das dificuldades interpessoais (as depressões, as neuroses existenciais ou as desordens do pensamento) como decorrentes de factores intra-individuais. Ao nível histórico, encontramos dois grandes movimentos na Psicologia que têm os problemas interpessoais como eixo central: o Treinamento Assertivo (TA) e o Treino de Habilidades Sociais (THS). Para além destes, encontramos, ainda, mais duas novas áreas de investigação: a teoria das Inteligências Múltiplas (considera a existência de várias inteligências, referindo a interpessoal e a intrapessoal) e a teoria da Inteligência Emocional (contribuiu para aumentar o interesse e a compreensão sobre as relações interpessoais, colocando em destaque as questões inerentes ao sentimento e à emoção nas suas ligações com a cognição e o comportamento).
Segundo Del Prette e Del Prette (2007), podemos encontrar duas abordagens psicológicas sobre as relações interpessoais: a explicação linear e a explicação sistémica do modo de agir.
1. A explicação linear
Esta perspectiva centra-se em explicar o nosso modo de agir segundo as relações de causa-efeito, tendo por base a ideia que a acção é contínua e, por isto, temos que atender a acontecimentos anteriores e posteriores a esta. Deste modo, considera que a nossa maneira de agir é afectada por factores internos a cada um de nós, como a vontade, o desejo, a consciência, por factores ambientais, como as características físicas, sociais e culturais de uma dada situação, e por variáveis intra-individuais, como as crenças, percepções e sentimentos.
Aparecem novas disciplinas que têm por objecto de estudo estes aspectos, como a Etologia, a Psicobiologia, a Sociobiologia e a Neuropsicologia. Foram estes estudos, que acontecem em multidisciplinaridade (várias disciplinas estudam o mesmo objecto), em interdisciplinaridade (diálogo entre investigadores com diferentes formações) e transdisciplinaridade (abolição entre as fronteiras das disciplinas e a cooperação entre os investigadores), que tornaram a Psicologia e a Psiquiatria ciências aplicadas, abandonando-se velhas teorias do discurso científico.
2. A explicação sistémica
Um sistema pode ser definido “como uma combinação ordenada de partes que interagem para produzir um resultado. A visão sistémica constitui uma tentativa de compreender a influência recíproca entre as partes de um sistema (seus subsistemas) e entre sistemas e seu entorno” (Del Prette & Del Prette, 2007, p.25).
Bertalanffy (1975 como citada em Costa & Matos, 2007) define sistema como “um conjunto de elementos em interacção entre si e com o meio” (p.13).
A explicação sistemática aparece como uma alternativa à explicação linear, dado que aparece como “uma tentativa de compreender a influência recíproca entre as partes de um sistema e entre sistemas partes que se integram para produzir um resultado” (Del Prette & Del Prette, 2007, p. 25).
Tendo em conta que as relações interpessoais, nesta perspectiva, só fazem sentido se analisadas no seu ambiente – familiar, escolar, social e cultura – implica que se envolvam todos os participantes activos de uma relação, olhando a mesma como um processo de vários componentes, pois “os sistemas humanos são determinados pela força como seus componentes se relacionam entre si e isto lhe confere a estrutura” (idem, p.28). As estruturas distinguem-se pelas suas dinâmicas próprias (relações, normas e regras). A mesma realidade pode ser percebida de modos diferentes em diferentes momentos e por diferentes pessoas, o que implica a subjectividade. A realidade pode ser objectiva, mas a percepção desta é sempre subjectiva.

Propostas para um novo padrão relacional

Tendo em conta que a sobrevivência de cada um de nós está directamente relacionada com a relação com o outro, há necessidades internas ou externas de relacionamento interpessoal. Segundo Trower (como citado em Del Prette & Del Prette, 2007), cada pessoa desenvolve um esquema interpessoal, que desempenha um papel importante na produção do comportamento social. Cada um tem, como objectivo, causar uma impressão satisfatória de si mesmo na relação com o outro, razoavelmente semelhante à que ele próprio possui, e essas relações têm maiores probabilidades quanto mais flexível o indivíduo for. Decorrente de vivermos em sociedade, surgem novas pressões para modificarmos o nosso comportamento, que deve ir de encontro a relações mais saudáveis, que resultam de uma visão crítica às antigas formas de convivência Segundo Del Prette e Del Prette (2007), essas relações envolvem três elementos fundamentais: a interdependência, a aceitação e a solidariedade.

A interdependência é um conceito relacionado com a necessidade de afiliação e outros tipos de necessidades de relacionamento, como instinto gregário, desejabilidade social ou atracção interpessoal. Baseia-se na ideia de que tudo e todos estamos relacionados uns com os outros e que existe uma necessidade intrínseca de troca mútua de interesses. É, também, “uma condição natural da vida social e um atributo de valor que deveria orientar, juntamente com outros atributos, as relações entre pessoas e grupos. A aceitação da noção de interdependência está relacionada à premissa, defendida por muitos, de que fazemos parte de uma rede de conexões que coloca cada pessoa, estando ou não próxima, em dependência recíproca das demais” (Del Prette & Del Prette, 2007, pp. 217-218).






A aceitação é a “firme disposição de reconhecer o outro tal como ele é, respeitando as diferenças percebidas, assumindo que qualquer objectivo de mudança deve passar pelo crivo de ambas as pessoas em interacção” (idem, p. 219). A aceitação opõe-se à intolerância e constitui-se como um elemento importante da convivência, sendo a base de uma relação baseada no respeito mútuo. A aceitação relaciona-se com a reciprocidade, que consiste "na maior garantia de exercício do direito de cada um ser como é, praticar a sua cultura e ter os seus valores, divulgando-os e defendendo-os. A aceitação predispõe a olhar e a ouvir" (ibidem).







A solidariedade é uma disposição permanente de ajuda. Não é, pois, uma doação, mas antes uma decorrência da junção entre interdependência e aceitação. Ser solidário é estar disponível para ajudar os outros de forma permanente e altruísta.






Teoria da Vinculação
A vinculação aparece relacionada com uma necessidade biológica do ser humano de segurança emocional e protecção. No caso das crianças, este sentimento é-lhes transmitido nas relações com os pais. Neste sentido, quando a criança ingressa na escola depara-se com uma nova realidade, sendo a sua primeira necessidade a afiliação. Esta palavra é utilizada pelos psicólogos sociais para se referirem a um desejo ou motivação para se estar com outras pessoas, ou seja, à necessidade que o ser humano tem de se relacionar com as outras pessoas. Segundo Neto (2000), “procuramos afiliar-nos para nos distrairmos, para obtermos ajuda, para partilharmos intimidades amorosas, para alcançarmos poder, etc. A investigação tem posto em evidência um amplo leque de necessidades sociais que o relacionamento com as outras pessoas pode contribuir para satisfazer” (p.141), sendo estas necessidades afiliativas seis: vinculação, integração social, certeza restabelecida de valor, sentimento de aliança consistente, obtenção de encaminhamento e oportunidade de educação. 

 
A reciprocidade pode ser definida como a crença numa tendência natural de todos os seres vivos, não exclusiva do Homem, que os leva a cooperarem uns com os outros.

A rejeição constitui a atitude antagónica à da aceitação, acabando por interferir no relacionamento interpessoal e podendo potenciar comportamentos menos amigáveis e afectuosos. E, caso de contexto educativo, pode levar ao isolamento da criança rejeitada, o que pode ter implicações no seu sucesso escolar.






Registo de atitudes de Aceitação, Reciprocidade, Interdependência e Rejeição em cenários escolares
No primeiro dia desta semana, segunda-feira, comemorou-se na minha escola o dia do pai, nos moldes que tem sido realizado nos últimos anos: no decorrer da semana anterior, cada turma elabora um presente e todos os alunos ensaiam uma canção dedicada ao pai. No final da semana, os alunos levam um convite para os pais irem à escola no final do dia (este ano calhou no dia 21). Todos os alunos se juntam no anfiteatro que existe no espaço exterior, cantam a canção e oferecem o presente ao pai.
No decorrer desta actividade pude constatar atitudes de aceitação, reciprocidade, interdependência e rejeição.
Na turma do 1.º ano, o Gonçalo, que é uma criança de etnia africana (sendo algo que se destaca na minha escola, dado que é o único aluno negro), é aceite por todos os alunos sem se verificar qualquer discriminação. No decorrer desta actividade, pude constatar que está integrado na turma e, até mesmo, na escola.
A reciprocidade e a interdependência também se puderam observar, principalmente na semana anterior. No decorrer da elaboração do presente, os alunos ajudaram-se mutuamente, quer na elaboração do presente, quer nos ensaios.
No entanto, no decorrer desta actividade, também foi possível observar atitudes de rejeição. A Carolina, aluna da turma do 3.º ano, chorou e sentiu-se rejeitada quando viu que o pai não estava presente.

Reflexão sobre a pertinência científica e pedagógica do tema
O contexto escolar e o contexto familiar são potenciadores de relações interpessoais. E é por este motivo que pensamos que a análise e discussão dos conceitos abordados neste tema são muito pertinentes, na medida em que eles são importantes para o enquadramento teórico das muitas situações experienciadas na escola por alunos, professores, assistentes operacionais, enfim, por toda a comunidade escolar.

Trabalhos realizados no âmbito do tema
Depois de uma breve pesquisa, encontramos um texto de Maria Cristina Canavarro, Pedro Dias e Vânia Lima que se centra na avaliação da vinculação do adulto, apresentando, no entanto, referência à vinculação nas crianças.
Para além deste, gostaríamos de referir, ainda, a dissertação de doutoramento em Psicologia Aplicada de Maria Teresa Pereira dos Santos, intitulada "Olhares sobre a diferença: representações de crianças e jovens", que se insere no âmbito da temática da educação inclusiva, fazendo referência na relação entre o Eu e o Outro aos conceitos de afiliação e rejeição.


Fontes:
Neto, F. (2002). Psicologia Social. Lisboa: Univ Aberta, 141-146.

Costa, E., &   Matos, P. (2007). Abordagem sistémica do conflito. Lisboa: Universidade Aberta, 43-72.

Del Prette, A., & Del Prette, Z. (2007). Psicologia das relações interpessoais (6ª ed.).Petrópolis: Editora Vozes, 212-220.