Sinopse
Um Olhar Sobre o Conceito de Conflito e Bullying
A interacção é uma característica intrínseca à vida em sociedade. E encontrando-se, cada vez mais, nas escolas uma diversidade social, cultural e económica dos alunos que a frequentam, o aparecimento de conflitos surge como algo que não se consegue evitar.
Estes conflitos poderão assumir mesmo formas de bullying. Assim, cabe à escola, enquanto instituição, desenvolver estratégias que possibilitem a gestão eficaz do conflito.
Apresentação das tarefas propostas e respectivos objectivos
As tarefas propostas encontram-se divididas por três fases:
Numa primeira fase:1.ª Estudo individual dos princípios básicos para a intervenção no conflito;
2.ª Estudo individual do conceito de bullying e suas implicações nas dinâmicas relacionais na escola e em contextos de trabalho.
Numa segunda fase:
1.ª Elaboração em grupo de um documento que caracterize, do ponto de vista teórico, o conflito na escola e o bullying, que caracterize uma das propostas de intervenção no conflito apresentadas na obra de Costa e Matos (2007), que analise uma situação de conflito ou um caso de bullying concreto, à luz da proposta sugerida em dando particular ênfase a um dos seguintes componentes: Família, Professores, Alunos, Pessoal não-Docente, Grupos de Pares, que realce as diferentes intencionalidades dos actores envolvidos na intervenção da situação de conflito proposta e que distinga o discurso opiniático produzido em alguns media, (em particular, na Internet), da abordagem científica desta problemática.
Numa terceira fase:
1.ª Apresentação, em fórum, dos casos e das propostas de intervenção sugeridas por cada um dos grupos;
2.ª Discussão alargada dos trabalhos apresentados.
O objectivo é:
- Conhecer dimensões fundamentais do conflito e do bulling, em contextos educativos.Conflito

De Dreu (1997 como citado em Pereira & Gomes, 2007) define-o como sendo um “processo que se inicia quando um indivíduo ou um grupo se sente negativamente afectado por outra pessoa ou grupo” (p. 2). Greenhalgh (1987 como citado em Jesuíno, 2008) considera que o conflito surge "sempre que os atores organizacionais não concordam em direitos, assuntos, atribuições, detalhes, ou procedimentos" (p. 25).
Conflito Escolar
Segundo Waller (1932 como citado em Costa, 2003), o conflito é uma constante na relação pedagógica, dado que esta se caracteriza pelas interacções que proporciona.
Embora possamos encontrar várias definições de conflito, em todas elas há a mesma ideia: o conflito tem origem numa interacção entre o indivíduo e o meio, caracterizada por ocorrer divergências ao nível de ideias, pensamentos, emoções, valores e predisposições.
Os factores que podem levar ao aparecimentos dos conflitos interpessoais podem ser diferenças individuais (valores, crenças, atitudes, sexo, idades e experiências), limitações de recursos e a diferenciação de papéis.
Johnson e Johnson (1995 como citados em Costa & Matos, 2007) classificam os conflitos na escola em quatro tipos: controvérsia, conflito conceptual, conflito de interesses e conflito desenvolvimental. O primeiro surge quando aparecem ideias incompatíveis e se procura um acordo entre os envolvidos; o segundo relaciona-se com novas informações que são incompatíveis com conhecimentos pré-existentes; o terceiro prende-se com a percepção que os objectivos do outro impedem que atinja os seus objectivos; o quarto relaciona-se com as relações entre adultos e crianças e com forças opostas de estabilidade e mudança.
Thomas (1992 como citado em Pereira & Gomes, 2007) classifica os conflitos em três tipos:
. conflito de objectivos – as relações conflituosas giram em torno de objectivos, interesses e necessidades incompatíveis;
. conflito cognitivo – as relações conflituosas têm origem nos juízos que cada uma das partes envolvidas faz sobre factos, dados ou situações;
- conflito normativo – as relações conflituosas aparecem pela não conformação a padrões ou normas previamente definidas.
Para Costa e Matos (2007), o conflito pode ser, ainda, intra-individual, interpessoal ou intra-grupo, considerando que, à partida, não o podemos classificar nem em bom, nem em mau, dado que esta classificação só será feita a partir das suas consequências.
Thomas (1992 como citado em Pereira & Gomes, 2007) refere por ordem crescente três níveis de conflito:
1.º Racionalidade e controlo – ambas as partes tentam, através de uma atitude cooperativa, resolver de forma racional situações propiciadoras de conflitos;
2.º Rompimento e relação – ambas as partes consideram que o factor que origina os conflitos é a relação em si;
3.º Agressão e destruição – ambas as partes ou apenas uma delas, assumem comportamentos irracionais, podendo dar origem ao bullying.
Bullying
Esta palavra provém do termo inglês bully, e consiste em qualquer tipo de abuso contínuo com a intenção de ferir, existindo um desequilíbrio de poder entre o agressor e a vítima, podendo assumir quatro formas: verbal, físico, emocional e ciberbullying. O primeiro relaciona-se com a utilização de alcunhas, boatos e a ridicularização pública; o segundo com agressões físicas repetitivas; o terceiro relaciona-se com a mentira; e o quarto com a difamação e ofensas utilizando a internet. Dan Olweus (1983 como citado em Musitu et al., 2011) define bullying como "uma conduta de perseguição física ou psicológica que um aluno realiza em relação a outro, o qual é escolhido como vítima de repetidos ataques. Esta acção negativa coloca as vítimas em posições das quais dificilmente conseguem sair pelos seus próprios meios" (p. 52). Este autor considera que o bullying é constituído por três características: o comportamento é agressivo e negativo, é executado repetidamente e ocorre num relacionamento onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas, podendo ser de dois tipos: directo ou indirecto. O primeiro consiste em comportamentos físicos ou verbais, no ataque ou destruição de objectos pertencentes à vítima ou na ofensa verbal directa, encontrando-se mais entre os membros do sexo masculino e o segundo, também denominado de agressão social, consiste na rejeição, marginalização ou difamação do sujeito, sendo mais característico dos membros do sexo feminino e das crianças mais pequenas, tendo como principal característica o forçar a vítima ao isolamento social.
Afonso e Cerviňo (2006 como citados em Urra, 2010) definem bullying como “uma conduta agressiva e persistente no tempo, exercida por um indivíduo ou grupo, que provocam baixa autoestima, isolamento e exclusão social da vítima. Este tipo de conduta evidencia-se através de insultos, ameaças, intimidação psicológica e agressões físicas, com tendência para aumentar em intensidade e frequência de agressões” (p. 326).
No bullying observa-se uma relação assimétrica entre dois ou mais indívíduos, na qual um deles, ou um grupo, desempenha de forma repetida, sistemática e intencional o papel de agressor sobre outro que se submete ao papel de vítima.
O bullying pode ocorrer nos mais diversos contextos (escolas, universidades, famílias, entre vizinhos, em locais de trabalho e, até, entre países,) sendo condição, apenas, que se verifique interacção entre seres humanos e estando em presente em todos a estrutura do poder entre agressor e vítima.
O bullying pode ocorrer nos mais diversos contextos (escolas, universidades, famílias, entre vizinhos, em locais de trabalho e, até, entre países,) sendo condição, apenas, que se verifique interacção entre seres humanos e estando em presente em todos a estrutura do poder entre agressor e vítima.


O bullying tem um grande impacto nas vítimas, que sofrem um decréscimo de auto-estima e se sentem impotentes perante as situações de ataque, podendo optar por pôr fim à situação, integrar o grupo de agressores ou outro grupo rival, como meio de protecção ou, na pior das hipóteses, os sentimentos de vergonha e insegurança podem levar ao suicídio.
Os sinais que as vítimas podem manifestar podem ir desde a ansiedade, isolamento, depressão, problemas de sono até aos sintomas físicos, recusa de ir à escola, fuga ou alegar doenças. Em situações extremas, o bullying pode levar ao bullycídio, ou seja a pressão é tanta que a vítima resolve acabar com a vida.
No agressor, este tipo de situações de violência são vistas como um ganho, uma mais valia pelo mesmo.
Os factores que podem levar ao aparecimento deste fenómeno são de vária ordem, podendo ir desde questões de auto-afirmação ou defesa de um território, estratégias de pressão até comportamentos de retalização (onde as vítimas passam a agressores).
Podem ser encontrados alguns critérios na escolha das vítimas, tais como, serem portadores de defeitos físicos que, muitas vezes, são diminutos (usar óculos), serem de origem social ou étnica e de género diferente do(s) agressor(es), ser o melhor aluno. Para além destes aspectos, as vítimas de bullying são, geralmente, jovens pouco sociáveis, com um forte sentimento de insegurança e de uma baixa auto-estima, o que leva a que sejam sujeitos passivos/quietos que não reagem aos actos de agressividades de que vão sendo alvos.
A principal característica dos agressores (ou bullies) é possuírem personalidades autoritárias, onde predomina a necessidade de controlar/dominar com o objectivo de humilhar o outro. Para além disto, são geralmente jovens que apresentam problemas emocionais ou de aprendizagem, pouco tolerantes à frustração, pouco persistentes e sem perspectivas de futuro. Apresentam dificuldades em fazer amigos e sentem-se infelizes em relação à escola, apresentando comportamentos de risco para a saúde (tabaco, álcool e drogas). Tendem a pertencer a famílias desestruturadas, encontrando-se pouco relacionamento afectivo entre os seus membros. Têm como modelo os seus pais que, geralmente, utilizam o comportamento agressivo para solucionar conflitos.
Em Portugal, ao crime de violência escolar ou bullying é aplicado o mesmo modelo de sanção que para os crimes de violência doméstica e de maus tratos. Assim, as penas de prisão serão aplicadas aos alunos maiores de 16 anos, embora, nos casos em que os agressores tenham idades entre os 12 e os 16 anos, podem ser-lhes aplicadas medidas tutelares educativas.
Na escola podem ser tomadas uma série de medidas para evitar o aparecimento do bullying, devendo investir-se na prevenção e estimulação da discussão aberta a todos e no envolvimento de toda a comunidade educativa – professores, funcionários, pais e alunos – e na implementação de projectos de redução do bullying. As acções a desenvolver devem ir no sentido da consciencialização de todos, no apoio às vítimas, de modo a que se sintam protegidas, na consciencialização dos agressores sobre a incorrecção dos seus actos e na garantia de uma ambiente escolar seguro.
Propostas de Resolução do Conflito
Costa e Matos (2007) apresentam dois grandes grupos de estratégias:
1.º Estratégias de resolução de conflitos centradas nos indivíduos e nas relações interpessoais, como a Mediação de Pares, a Proposta de Stevahn e a Proposta de Heydenberk, Heydenberk e Bailey;
2.º Estratégias de resolução de conflitos centradas nos sistemas, como a Proposta de Pianta, a Proposta de Eccles e Roeser e a Proposta de Coleman e Deutsch.
Vou passar de seguida à análise de uma proposta de cada um dos dois grupos de estratégias.
Assim, no primeiro grupo, Menezes (2003 como citado em Costa & Matos, 2007) considera que a Mediação de Pares é a que tem sido a mais utilizada, tendo o mediador como principal função gerar acordos e desenvolver estratégias para lidar com problemas.
Costa e Matos (2007) referem cinco factores que fazem parte deste processo de resolução de problemas e que são:
- Separar as pessoas do problema, tendo em consideração que cada conflito origina diferentes pontos de vista;
- Reconhecer as emoções envolvidas no processo, dado que pessoas diferentes têm formas diferentes de lidar com emoções e sentimentos;
- Aceitar que o conflito é comunicação e que há que ter em conta que podem surgir vários condicionantes, entre os quais, aquilo que se comunica não é o que se queria comunicar; pode não haver compreensão daquilo que foi comunicado;
- Aprender a diferenciar o foco nos interesses e não nas posições, sendo que muitas vezes são os interesses que são a explicação para a ocorrência do conflito e não as posições assumidas;
- Criar oportunidades para encontrar opções ou alternativas distintas, dado que pensar nos problemas já faz parte da sua resolução.
No segundo grupo vou centrar-me na análise de uma estratégia de resolução de conflito centrada nos sistemas, dado considerar que, quer a escola quer a família, são dois locais que “funcionam como dois sistemas básicos para o desenvolvimento psicossocial dos seus alunos, funcionando idealmente como sistemas de segurança facilitadores do seu desenvolvimento bio-psico- social” (Costa & Matos, 2007, p. 100).
Dentro desta, irei debruçar-me na proposta de Coleman e Deutsch de um modelo que apresenta cinco níveis de abordagem:
1.ª Nível – Disciplina – este nível centra-se “nos programas de mediação de pares, com formação e supervisão de acompanhamento no sentido de preparar os alunos e professores seleccionados para servirem como mediadores” (idem, p. 91). Os centros de mediação constituídos nas escolas efectuam a divulgação dos seus serviços junto da população escolar, recebendo pedidos de ajuda de várias proveniências (órgãos de gestão, professores, alunos).
2.º Nível – Currículo – relaciona-se com “a incorporação no currículo escolar de conteúdos temáticos como compreender o conflito, comunicar, lidar com fúria, cooperação, assertividade, consciência das diferenças, diversidade cultural, resolução de conflitos e pacificação, variando o seu conteúdo em função das características dos alunos” (idem, p. 91-92).
3.º Nível – Pedagogia – prende-se com “o uso de estratégias de ensino, a aprendizagem cooperativa e a controvérsia nas disciplinas regulares” (idem, p. 93).
4.º Nível – Cultura Escolar – relaciona-se com “a formação dos próprios adultos das escolas” (idem, p. 94)
5.º Nível – Comunidade Alargada – alerta para “a necessidade de que as formações de processos colaborativos e de resolução construtiva de conflitos ultrapassarem os limites físicos da escola, envolvendo os pais, os demais prestadores de cuidados e educadores, a polícia local, membros de organizações comunitárias locais, entre outros” (idem, p. 95).
Trabalho de Grupo
De acordo com o pedido nesta temática, nomeadamente na 1.ª tarefa da segunda parte, juntamente com as colegas Ana Martins, Isabel Vieira, Margarida Batista, Paula Silva e Risoleta Montez constituímos o grupo F e elaborámos um power point. Esse trabalho pode ser consultado no link abaixo indicado.
Reflexão sobre a pertinência científica e pedagógica do tema
Este tema está na ordem do dia, sendo um assunto bastante actual. É, infelizmente, bastante comum, mesmo nas escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico, verificar-se a ocorrência de conflitos, daí que a abordagem desta temática seja importante porque possibilita o conhecimento de formas de tornar situações conflituosas em situações de autêntica aprendizagem.
Depois de alguma pesquisa, encontrámos uma investigação realizada por Marques e Cunha (n.d.) sobre estilos de gestão de conflito em contexto escolar, com o objectivo de analisar a importância dos distintos estilos de gestão de conflito para a resolução construtiva do mesmo no contexto escolar.
Relativamente ao bullying, Flores (2007) efectuou um estudo num contexto escolar, com uma amostra de alunos do 3º ao 9º ano de escolaridade, no âmbito de uma dissertação de mestrado. O autor tinha como principal objectivo estudar duma forma empírica esta temática e procurar respostas para algumas questões levantadas relativamente ao bullying e às suas características.
http://biblioteca.sinbad.ua.pt/teses/2007001293Fontes:
Carvalhosa, S. F., Lima, L. & Matos, M. G. (2001). Bullying - A provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português. Análise Psicológica, 4, 523-537. Recuperado em 17 maio, 2011, de http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aps/v19n4/v19n4a04.pdf
Costa, M. (2003). Gestão de conflitos na escola. Lisboa: Universidade Aberta.
Costa & Matos (2007). Abordagem sistémica do conflito. Lisboa: Universidade Aberta.
Jesuíno, J. (2008). Conflito e negociação. Porto: Edições Asa.
Musitu, G., Estévez, E., Jiménez, T. & Veiga, F. (2011). Agentes de socialização da violência e vitimização escolar. in Caldeira, S. & Veiga, F. (Orgs.) Intervir em situações de indisciplina violência e conflito. Lisboa: Fim de Século.
Pereira, J., & Gomes, B. (2007) Conflitos: Gestão de conflitos. Coimbra. Recuperado em 20 maio, 2011, de http://prof.santana-e-silva.pt/gestao_de_empresas/trabalhos_06_07/word/Gest%C3%A3o%20de%20Conflitos.pdf
Urra, J. (2010). O pequeno ditador. Da criança mimada ao adolescente agressivo (16ª ed.) Lisboa: A esfera dos livros.
www.educacional.com.br/reportagens/bullving/